“Sou sócio de um escritório de advocacia, tenho 57 anos e no meu escritório há uma regra que todos devemos nos aposentar com 62 anos. Sabendo que vamos viver muito mais que nossos pais, como devo me preparar para minha aposentadoria?”
A aposentadoria é um período de fruição do que foi acumulado ao longo do tempo. Isto não quer dizer necessariamente o fim das atividades laborativas, mas uma rotina com mais liberdade. Envolve questões tanto financeiras como psicológicas, tendo em mente uma longevidade maior, em virtude dos avanços da medicina e qualidade de vida.
Financeiramente, listamos os principais itens que devem ser considerados para um bom planejamento desta nova fase:
- Situação patrimonial: é o levantamento dos bens, direitos e obrigações, separando por objetivo:
- Bens de uso: são itens destinados ao uso próprio ou familiar, como carro, apartamento ou casa, imóveis de veraneio. São bens que geram despesas, e quanto maior o patrimônio de uso, maior serão as despesas fixas. Devem ser avaliados ante seu custo/benefício, cogitando adequações se necessário.
- Bens de renda: são bens móveis ou imóveis que geram renda, como por exemplo salas comerciais para alugar e veículos de carga. É importante considerar fatores como vacância, liquidez, despesas de manutenção, depreciações e outros. São várias as formas de avaliar se a renda líquida do bem está adequada, como por exemplo, média de mercado, oportunidades e expectativas de valorização. Uma análise mais prática pode utilizar como parâmetro de comparação uma taxa livre de risco, como por exemplo CDI ou Selic, calculada sobre o valor do bem, para ver se o investimento compensa.
- Bens “nem-nem” (nem de renda, nem de uso): são bens não de uso, ou pouco utilizados, e que também não geram renda, ocasionando prejuízo em sua manutenção. A avaliação sobre a preservação do bem no respectivo patrimônio deve considerar a expectativa de valorização (ou não) e melhor momento para venda e realocação em outro investimento.
- Endividamento: em eventuais dívidas, considere prazos, taxas e comprometimento mensal. Como ainda faltam 5 anos para sua aposentadoria, se houver dívidas, cuide para eliminá-las ou reduzi-las ao máximo, porque, além de comprometer parte do orçamento com os pagamentos periódicos, também há o custo dos juros.
- Investimentos financeiros: Contabilizar os investimentos em previdência privada, renda fixa, renda variável e outros, considerando os riscos e rentabilidades. Um profissional com autorização CVM pode ser útil na elaboração de uma carteira eficiente de acordo com seus objetivos.
- Situação financeira: analise suas receitas e despesas, seu comprometimento mensal e se há sobras ou falta de recursos regularmente. Com o novo estilo de vida, pode haver alterações, como por exemplo cessar benefícios da empresa em planos de saúde, alimentação e outros. Também tenha em mente que, com mais tempo livre, pode haver despesas adicionais com lazer e compras. Aliado a tudo isso, há a possibilidade de uma eventual queda de receita. É importante fazer adequações desde já para ter mais tranquilidade na nova fase.
- Rendas: relacionar as fontes de renda, como participação societária no escritório e outras empresas, aluguéis, rendimentos de investimentos, previdência privada e previdência social. São as entradas que garantirão a vida no futuro sem atividade laborativa. O ideal é que haja investimentos que, de acordo com a fórmula da Perpetuidade, comumente utilizada em cálculo do valor ideal para saldo acumulado em previdência, permita retiradas de rendimentos equivalentes às necessidades financeiras.
- Despesas fixas e variáveis: ter ciência de todas as despesas anuais, fixas e variáveis, fazer um orçamento e acompanhá-lo mensalmente, fazendo ajustes quando necessário. Quando há um orçamento, tanto para despesas rotineiras, como deixando uma margem para imprevistos ou oportunidades, há maior segurança no decorrer do tempo.
- Projetos de vida: é importante mensurar os projetos para o futuro, se há expectativa de viagens, investimentos, ações de voluntariado, etc. Estes projetos auxiliam no bem estar, construção do legado e também necessitam de programação financeira, pois consomem recursos na sua execução.
Resumindo, para um bom planejamento financeiro do novo ciclo de vida, é importante fazer as contas da renda desejada, do patrimônio ideal para alcançá-la, assim como do tempo e esforço requeridos para atingir o objetivo, considerando a expectativa de juros e inflação do período.
Eliane Jaqueline Debesaitis Metzner é planejadora financeira pessoal e possui a certificação CFP (Certified Financial Planner), concedida pela Planejar – Associação Brasileira de Planejadores Financeiros
Artigo publicado originalmente no site e jornal físico Valor econômico